Santa Clara Clareou

Estava andando outro dia na rua enquanto escutava a música do Jorge Ben Jor “Santa Clara Clareou” e me deu uma saudade da minha bisavó Consuelo.

Lembro dela me falar que eu era devota de Santa Clara e me dar um papelzinho com uma foto da Santa e uma oração na parte de trás, esses que se distribuem nas igrejas durante as festas juninas de Brasília. Nunca entendi bem o porquê dela escolher Santa Clara para me proteger. Quando perguntava, ela só me dizia: “era uma santa tão bonitinha” e ficava por isso.

Entre amigos porém, fazia piada que estava negociando com ela para trocar de santo, porque queria mesmo a Nossa Senhora da Aparecida, que é padroeira do Brasil. Nunca fui de frequentar igreja, e meu conhecimento de religião se baseia muito na peça do Ariano Suassuna, O auto da compadecida. No filme dessa obra de arte brasileira, Nossa Senhora é interpretada por Fernanda Montenegro quem acredito fortemente que protege muitos em Terra. Pelo filme e por Fernanda Montenegro, botei na minha cabeça que Nossa Senhora era minha santa.

Ontem tudo mudou. Depois desse momento cósmico no meio da rua de DC, onde a música e minhas memórias se juntaram em sintonia, cheguei em casa do trabalho e fui direto mexer na minha bagunça, onde guardo meus maiores tesouros. Lá estava Santa Clara, olhando para mim, do mesmo jeitinho que no dia que vovó Consuelo me deu o papelzinho com sua foto.

Emocionada, criei vergonha na cara e fui pesquisar sobre a vida de Santa Clara. Descobri que ela foi pica e feminista. Nascida de família rica, ela largou tudo para seguir seu instinto, cortou os cabelos para não voltar para casa (igual Mulan, outra ídola minha), enfrentou invasores da igreja de peito aberto e é considerada a padroeira da televisão por ter conseguido assistir uma missa do seu quarto. Ela foi a primeira mulher a escrever um conjunto de regras do ramo feminino da Ordem Franciscana e tudo indica que dedicou sua vida para fazer o que amava – características que admiro em todos que me rodeiam.

Hoje ainda por cima é o seu dia e quem me conhece sabe que acredito no destino, e acredito ainda mais na vovó Consuelo.

E é por isso que, aos 28 anos, e em homenagem a vovó Consuelo, me re declaro devota de Santa Clara.

Como já dizia Jorge Ben, "Salve Santa Clara"!